segunda-feira, 19 de abril de 2010

Reportagem do DFTV de 19/04/2010

Estrutural é considerada um risco para os moradores

Um aterro sanitário desordenado. Uma vila que virou cidade, não para de crescer e ainda é cercada por um gasoduto. Essa combinação tornou a Estrutural um lugar de perigo constante. A área vazia trouxe o lixo e o lixo trouxe as pessoas. “Eu moro aqui porque sou obrigada, na verdade”, diz a dona de casa Glade Fontenele.

Depois, surgiram as casas e ruas que foram empurrando e se acomodando com o lixo em cima e às margens dele. “Eu tenho cinco crianças e elas têm problemas de bronquite e asma”, conta a dona de casa Maria Alves da Silva.

Mas foi nessa região que o governo federal investiu quase R$ 14 milhões para construir 460 casas. “É perigoso sim, porque a água está contaminada pelo lixão. E por toda parte da Estrutural tem sujeira”, alerta a dona de casa Lusanira Araújo.

Nunca houve controle. “A Estrutural foi deixada por uma questão política, de que aquilo é interessante pra próxima eleição. Para nós, não importa qual foi o governador. O que importa é o fato que está acontecendo, onde deixaram pessoas assentadas em cima de um lixão”, destaca a ambientalista Mônica Veríssimo.

O aterro virou vila. E a vila virou cidade. Mais do que um curral eleitoral, o lixão fez da Estrutural uma bomba-relógio em plena atividade, por causa da produção constante de gás metano. No caso de um grande incêndio ou de uma explosão, por exemplo, não é difícil de imaginar o tamanho da tragédia que poderia acontecer.

Além disso, estudos ambientais já comprovaram que o lixo, em atividade desde o início da década de 60, contaminou o reservatório subterrâneo de água, o solo e o ar também. Danos ambientais irreversíveis, que prejudicam e colocam em risco a vida de todas as pessoas que moram pelo local.

Em um incêndio, os becos estreitos seriam um obstáculo para o socorro. O gás metano produzido pelo lixo serviria de combustível, junto com os barracos de madeira e papelão. “Às vezes, as pessoas guardam muito material combustível dentro das residências. Material que pega fogo muito facilmente, como papel, tecido e madeira”, explica o tenente Victor de Oliveira, do Corpo de Bombeiros.

E ainda tem o gasoduto, que passa do outro lado da cidade. “Nós estamos cercados de perigos”, fala a professora Azinete Neves.

A comunidade do Morro do Bumba, em Niterói (RJ), também cresceu desordenadamente em cima de um aterro e a chuva forte fez tudo desabar. Pelo menos 45 pessoas morreram. Na Estrutural não tem morro ou encostas, mas isso não diminui os riscos.

Em março, o Ministério Público apresentou um relatório sobre a capacidade do lixão. A recomendação dos peritos é interromper imediatamente o lançamento de resíduos, por causa das técnicas precárias, dos prejuízos socioambientais, da falta de licenciamento e da extrapolação da capacidade de receber lixo. Mas isso ainda vai demorar pelo menos um ano. Tempo previsto para construção do novo aterro em Samambaia, que ainda não começou.

“É uma indústria fechada com cercas, aonde chega esse material para depósito já pré-selecionado. Ali não tem material de interesse para as pessoas”, diz o presidente da Adasa, Ricardo Pinto.

A licitação do aterro nem sequer foi liberada pelo Tribunal de Contas. Só quando o novo estiver aberto é que o lixão vai ser fechado. Mas a Estrutural vai continuar lá. As pessoas e o lixo encoberto, também.

Durante a gestão do ex-governador José Roberto Arruda, a Secretaria de Obras investiu R$ 60 milhões em drenagem e pavimentação da Vila Estrutural, empréstimo do Banco Mundial. De qualquer forma, o lixão só deve ser desativado em um ano.


Rafael Monaco / Marcos Tavares / Edney Freitas / José Cláudio Soares

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