domingo, 26 de junho de 2011

População questiona a eficiência dos postos comunitários da PM



Saulo Araújo

Publicação: 26/06/2011 08:00 Atualização:

Em um dos postos do Guará, as portas da unidade foram trancadas com uma algema durante ausência do policial (Ed Alves/Esp.CB/D.A Press)
Em um dos postos do Guará, as portas da unidade foram trancadas com uma algema durante ausência do policial

Anunciado em 2008 como o principal projeto para reduzir a criminalidade no Distrito Federal, o funcionamento dos 119 Postos Comunitários de Segurança (PCS) ainda hoje divide a opinião da população. Os contrários à proposta argumentam que a presença de militares dentro de uma estrutura tira a mobilidade da polícia. Já os defensores da ideia acreditam que uma unidade fixa proporciona uma sensação maior de segurança para a comunidade. Nem mesmo entre os PMs destacados para desempenhar tal função existe unanimidade. O Correio visitou várias cidades na última semana e constatou que ainda falta muito para que o atual modelo seja considerado exemplar.

Um dos principais obstáculos é o baixo efetivo da corporação. No posto da Quadra 302 do Sudoeste, apenas um militar estava de prontidão. Os outros dois soldados escalados para o serviço no posto faziam rondas pelo bairro. Sozinho no PCS, ele admite que suas ações se restringem a acionar por rádio uma viatura mais próxima para atender a uma ocorrência. “Se eu me ausentar (do posto) e sumir um rádio ou depredarem a estrutura, a responsabilidade será toda minha, por mais que eu explique a situação. Dependendo do caso, ainda posso responder por abandono de posto”, afirmou o militar, que pediu para não ser identificado.

Um outro policial lotado em um dos postos do Guará também criticou o fato de sempre um militar ficar imobilizado. “Uma vez chegou um rapaz esfaqueado aqui no posto, perdendo muito sangue. Eu vi o agressor com a faca na mão. Ou eu socorria a vítima ou saia correndo atrás do bandido. Fiquei com a primeira opção. Sozinho é impossível fazer um trabalho eficiente”, reclamou.

O chefe do Centro de Polícia Comunitária e Direitos Humanos da PMDF, coronel Walter Sobrinho, admite que a falta de efetivo compromete o bom desenvolvimento do serviço policial, mas ressaltou que, mesmo diante do problema, os resultados têm sido positivos. “Como é do conhecimento de todos, ficamos oito anos sem concurso público. Por falta de policiais, alguns postos não funcionam exatamente como gostaríamos, mas, mesmo assim, em muitas cidades a polícia conseguiu interagir bem com a população, o que implicou a redução da criminalidade”, ressaltou.

O coronel acredita que o cenário deva melhorar com a incorporação, até o fim do ano, de 650 PMs aprovados no último concurso para soldado. Entre as disciplinas ministradas no curso de formação de praças está a de promotor nacional de polícia comunitária. Segundo o oficial, já existe previsão orçamentária para aquisição de mais viaturas que servirão exclusivamente aos postos. “Existe um projeto de otimização dos postos, que inclui a compra de mais viaturas, pintar os postos com as cores da PM (hoje eles são verdes) e aumentar o efetivo”, afirmou o coronel.

Fechado
A presença do posto tranquiliza comerciantes que estão em área próxima à base policial. No Posto Comunitário da QE 30, no Guará II, a reportagem flagrou a unidade com as portas fechadas com um par de algemas. Comerciantes que trabalham em frente ao posto afirma, no entanto, não ser comum o local ficar às moscas. “Eles fecharam para atender uma ocorrência. Considero a presença deles aqui eficiente. Trabalho neste comércio há um ano e nunca um bandido tentou roubar nessa área. A presença deles inibe bastante a marginalidade”, elogia o garçom Aldemir Cury de Araújo, 21 anos.

A vendedora Paula Vieira, 26 anos, que trabalha em uma drogaria no Sudoeste, também se sente mais segura sabendo que pode pedir ajuda no posto em caso de emergência. “É bom saber que, se precisarmos, podemos gritar que eles estão aqui ao lado. Só a presença deles aqui já afugenta as pessoas mal-intencionadas”, opina.

Já na avaliação do advogado Ulysses Machado, 51 anos, o serviço é deficiente. Para ele, o policiamento ostensivo ficou prejudicado com a instalação dos postos. “Tiraram os policiais das ruas para colocar nos postos. O ideal seria ter o posto, além de um eficiente policiamento ostensivo. Percebo que os postos não respondem às demandas do Estado”, afirma.








Fonte: Site do Correio Braziliense em 27/06/2011

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